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Atualizado em 16/02/2016 às 08:25
Caiçara - Único médico do município fez cachaça para estudar
As adversidades enfrentadas por um integrante de família humilde, com pouco estudo, morador do Interior gaúcho, não impediram Celestino Zambonato de garantir, há 33 anos, uma vaga no curso de Medicina, um dos mais concorridos das universidades. Ele puxou carroça de cana-de-açúcar, produziu cachaça e também foi eletricista para assegurar a realização do sonho de ser médico. Atualmente, ele é o único profissional da área que mora em Caiçara, município de cinco mil habitantes no Noroeste do Rio Grande do Sul. A história do clínico geral começa em uma família pobre, moradora do interior de Santo Ângelo. Com 9 irmãos, mãe analfabeta e pai que precisava da ajuda dos filhos para o sustento do grupo, Zambonato auxiliava na colheita e no transporte de cana-de-açúcar e na fabricação de cachaça. “Puxava oito carroças de cana por dia para fabricar três barris de 100 litros”, relembra. Desde cedo ele sabia que para garantir seu futuro era preciso estudar, mas a localidade não possuía turmas além da quinta série. Somente quando já era adolescente foi aberta uma escola com as séries seguintes e ele pode continuar a estudar, apesar dos apelos do pai de que ele precisava trabalhar. “Quando surgiu a sexta série eu sabia que deveria continuar. Expliquei para o pai e fiz um trato: eu trabalharia durante o dia e estudaria à noite. Depois de fazer a cachaça, eu tomava um banho de rio e caminhava 6 quilômetros a pé, ou ia de bicicleta, até a escola. Meu pai ficou admirado quando consegui concluir o Ensino Fundamental e isso foi um incentivo para seguir adiante”, conta o médico. Para concluir o Ensino Médio, Zambonato investiu em outra profissão. Fez curso de eletricista e trabalhou na área até se formar. Com a ajuda do irmão, fundou uma empresa de materiais elétricos e foi em busca do diploma de médico. Com os trabalhos de eletricista, guardou alguns valores e viajou até Porto Alegre para fazer um curso pré-vestibular. Foram três tentativas até garantir a aprovação. “Passei na Universidade Católica de Pelotas e me mudei para lá. Procurei trabalhos, fiz estágio em uma agência bancária e contava com a ajuda financeira da firma que abri com meu irmão. Depois de formado pude retribuir a ele todo esse apoio ajudando a pagar a faculdade de Direito da minha sobrinha e afilhada”, relatou emocionado, lembrando que o irmão, antes de falecer, pediu que ele cuidasse da filha. Foram nove anos cursando Medicina, no qual ele se formou com 37 anos. Normalmente ele concluiria a faculdade em seis anos, mas preferiu se dedicar a estágios na própria universidade e no Esporte Clube Pelotas – time para o qual torce até hoje. SIMERS Douglas Biguelini - Jornalismo Grupo Chiru Comunicações