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Atualizado em 02/08/2019 às 11:23
Consórcio Yucumã quer respostas sobre o complexo Garabi/Panambi
Lideranças querem saber como realmente serão afetados os municípios e o Parque Estadual do Turvo
O complexo Hidrelétrico Garabi/Panambi voltou a pauta do Consórcio Rota do Yucumã. Em reunião na tarde da última terça-feira, 30 de julho, no auditório do Centro Administrativo de Santo Augusto as lideranças políticas e sociais debateram o tema e são unânimes em pedir novos estudos sobre o impacto ambiental das usinas.
– Não somos contra o desenvolvimento, nem a geração de energia e muito menos que o projeto saia do papel, o que queremos são informações mais precisas, que demonstrem o quanto o Salto do Yucumã será afetado, o quanto a fauna e a flora do local poderão ser alteradas. Não se tem estudos atualizados, o que se tem é da década de 70, tem coisas mais novas, mas que foram barradas judicialmente, por isso não estão concluídas. O salto, por exemplo, já foi afetado com a Foz do Chapecó, não sabemos como vai ser com essas usinas que são mais próximas –, reforçou a secretária de Indústria, Comércio e Turismo de Derrubadas, Angelita Bomm dos Santos, em entrevista ao Grupo Chiru.
Prefeitos e secretários municipais, representando pelo menos 17 municípios que compõe o Consórcio Rota do Yucumã, que abrange 32 municípios da Amuceleiro e Amuplam, estiveram reunidos.
Atualmente, a informação é de que pelo menos 60 hectares de área nativa do Parque Estadual do Turvo serão atingidos. Sobre a visibilidade do Salto do Yucumã, poucas são as informações reais. “São muitas as divergências. O parque é uma unidade de conservação integral, além das quedas a biodiversidade também vai ser atingida, fauna e flora são riquíssimas aqui. É algo que tem que ser levado muito a sério, os estudos devem ser coerentes e acreditamos que a compensação deve ser muito avaliada”, completou a secretária.
A maioria das lideranças tem as mesmas dúvidas exemplificadas por Angelita, porém, alguns acreditam que o projeto pode trazer benefícios a municípios da região, em termos de ampliação no potencial energético e em recursos advindos de royalties.
Um ponto, pelo menos, já é consenso entre todos os membros do Consórcio Rota do Yucumã: ninguém é contra o desenvolvimento e o projeto até pode sair do papel, mas para isso, a visibilidade do Salto do Yucumã precisa ser integralmente preservada, mantendo de pé uma riqueza natural considerada o maior ponto turístico da região e um dos mais importantes do Sul do país.
Após amplo debate, foi unânime entre os presentes a necessidade de informações mais precisas sobre o projeto e o posicionamento em defesa do Salto do Yucumã. Desta forma, nos próximos dias será encaminhada a solicitação destas informações aos órgãos competentes.
Um ofício da região deverá ser entregue na próxima semana aos representantes dos órgãos, em Brasília (DF), possivelmente pelo presidente da Amuceleiro e prefeito de Inhacorá, Everaldo Rolim.
A ideia do grupo é obter respostas, através de estudos profundos e atualizados, sobre qual a real área do parque que será alagada, se a visibilidade do Salto do Yucumã estará garantida, quantas famílias serão atingidas, quais os meios de ressarcimento de danos, qual o impacto social do projeto, entre outras questões, para que então a Rota do Yucumã tenha a possibilidade de encaminhar uma posição formal unificada e concreta sobre o tema.
Ouça a entrevista completa com a secretária Angelita
O COMPLEXO
O Complexo Garabi/Panambi é um projeto binacional que une Brasil e Argentina e foi tema, inclusive, da primeira visita oficial que o presidente Jair Bolsonaro realizou ao país vizinho, em junho.
O complexo faz parte dos projetos hidrelétricos planejados para a bacia do rio Uruguai na década de 1970. Nos estudos de inventário feitos na década de 80, foram planejadas três usinas para o aproveitamento da energia hidrelétrica no trecho binacional do rio Uruguai: São Pedro, Garabi e Roncador.
Em 2010 foram realizados novos estudos de Inventário Hidroelétrico, os quais resultaram em dois aproveitamentos hidrelétricos: Garabi (com reservatório na elevação 89 metros em relação ao nível do mar e potência de 1.152 MW) e Panambi (com reservatório na elevação 130 metros em relação ao nível do mar e potência de 1.048 MW).
Em 2015 a Justiça Federal proibiu a expedição de licença prévia e suspendeu o processo de licenciamento ambiental para a instalação da Usina Hidrelétrica de Garabi/Panambi. A decisão de manter o processo suspenso está embasada no fato de que a obra afetaria o Parque Estadual do Turvo (Derrubadas), uma unidade de conservação integral que não pode sofrer qualquer alteração humana.
Por mais que a cota 130 da UHE Panambi fique alguns metros abaixo do nível do Salto do Yucumã e o seu reservatório não atinja diretamente a visibilidade das quedas, foi levantada a preocupação sobre como se comportará o escoamento da água do rio. Este aspecto merece atenção, visto que, atualmente, a visibilidade das quedas já está vulnerável à operação do conjunto de usinas que existem no Rio Uruguai, de forma mais direta a UHE Foz do Chapecó.